Por Nathália Rey
Cantar é fazer analogia aos sentimentos mais profundos da psique humana: alegria, dor, crença, espera e amor. Tantas são as vezes que utilizo a música para exprimir minhas impressões cotidianas que já não sei se falo ou só canto… mas sei que só assim sou capaz de exteriorizar minhas emoções. Quando se cresce ouvindo um distante badalar de sinos se contrapondo com as ríspidas batidas em um cinzel que talha em pedra as mais delicadas feições, é impossível não querer navegar em ondas sonoras artísticas.
Fiz morada no canto ainda criança, participando de reuniões de familiares e amigos, que faziam serenatas e pequenos saraus para estreitar ainda mais os laços de amizade e empatia. Neste meio, a fé também vinha abraçada com a música e então, eu conheci as vozes do lirismo através da música sacra. Quando comecei a me dedicar ao canto lírico acompanhada por profissionais gabaritados e experientes, aprendi que somos capazes de despertar diversas sensações em outras pessoas com nossa voz, mas para isso, existe um caminho certo a ser seguido. Sistematizar as emoções não é tarefa fácil. São necessárias longas e longas horas de estudo e acirrada dedicação para que os ouvintes sejam envoltos e sintam a mensagem que geralmente dura poucos minutos, mas que pode ser inesquecível e marcar a memória por toda uma vida.
A voz é um instrumento poderoso e único! Existem vozes parecidas, mas nunca idênticas. Além disso, não somente o timbre diferencia uma voz, mas a técnica que se utiliza ao cantar também pode criar as mais diversas variações em uma única música. O posicionamento vocal adequado para cada canção, pode ser escolhido de acordo com o ritmo, com a mensagem a ser passada e com a extensão vocal de cada pessoa. Para isso, é importante conhecermos as possibilidades e limitações que surgirão durante a execução de uma música. Se por um lado nos deparamos com a sutiliza do sentir, pelo outro enfrentamos severas regras de exatidão para que, de maneira perene, os resultados sejam atingidos. É impossível separar estes extremos que, quando juntos, maravilham os ouvidos. Ainda trago a mesma paixão infantil pela arte de cantar, porém, ela se solidifica a cada estudo, execução, escolha musical e uso vocal que faço. Hoje, eu sei que cantar é abraçar a alma do outro com os braços efêmeros de nossa voz!
Nathália Rey é intérprete soprana e apresentadora