Por: Ramon Barbosa Franco
Assim como muitos da minha contemporaneidade sou um fã dos livros e filmes inspirados na obra de Stephen King. A cada período este escritor prolixo e contagiante nos contempla com obras empolgantes. Lembro que na adolescência cheguei a fazer um festival doméstico só com os filmes baseados na obra de King. Era o tempo das fitas VHS e das locadoras e, assim, todo sábado, corria lá na locadora do Cássio e escolhia um filme de terror inspirado nos livros de King: ‘O iluminado’, ‘Cujo’, ‘It, a Coisa’ [a primeira versão], ‘A hora da zona morta’, ‘Sonâmbulos’ e ‘Cemitério Maldito’. Este último, ‘Cemitério Maldito’ foi o que mais me assustou.
Depois, descobri que ‘Conta Comigo’ e ‘Um sonho de liberdade’ eram filmes inspirados no Stephen King. Nascia aí, então, o meu lado leitor. O cinéfilo saía de cena e entrava o admirador da obra literária deste autor americano. ‘Joyland’ e ‘Quatro estações’ me marcaram muito, mas o livro que mais gostei dele foi ‘Sobre a escrita’. Nesta obra aprendi algo muito profundo, principalmente para quem tem a escrita como base de trabalho ou para quem que deseja trabalhar com o ato de escrever. King me ensinou e ensinará quem ler ‘Sobre a escrita’ que devemos ler e escrever sobre qualquer circunstância. King recebia um não atrás de outro quando estava iniciando sua lavra literária. Trabalhava, mas tinha como meta ser um escritor profissional. Com dois filhos pequenos e no começo de vida ao lado de sua esposa, sentia as dificuldades de sustentar um lar. Mandava um conto atrás de outro para as revistas literárias que compravam histórias de ficção. King só recebia não, não vendia uma linha, mas alimentava a esperança de um dia ser publicado e receber por isso. Escrevia, escrevia e escrevia. Mandava uma carta atrás da outra para as revistas literárias. Nada.
Esta mesma insistência foi o segredo de outro grande autor americano, o recluso J. D. Salinger, de ‘O apanhador no campo de centeio’, que só se convenceu quando fui seu texto ficcional publicado numa prestigiosa revista americana. Revista literária esta que era absolutamente criteriosa. King não desistia, mesmo com os nãos e as rejeições. Certa feita, voltando da visita da casa da mãe, com seu casal de filhos pequeno, o menino começa a ter febre, a tossir e passar mal. Sem dinheiro, King e a esposa evitam falar como resolver a situação. O menino piora e a família chega em casa. Desesperançados, King abre a caixa dos correios: contas, panfletos e uma carta esquisita. Entram em casa. A cabeça de King em como conseguir dinheiro para ir até a farmácia. O menino arruinando em tosse e catarro. O escritor abre aquele envelope estranho: lá dentro um dinheiro, fruto da aquisição de uma de suas histórias. A grana era suficiente para os remédios e muito mais. Desse dia em diante, o escritor numa mais parrou de escrever. A persistência, a inteligência e a necessidade legaram para nós um autor muito criativo, que nos leva para lugares e ambientes fascinantes.
Ramon Barbosa Franco é jornalista formado pela Universidade de Marília e escritor, autor dos livros ‘Contos do Japim’, ‘A próxima Colombina’ e ‘Getúlio Vargas, um legado político’, ramonimprensa@gmail.com